quinta-feira, dezembro 25, 2008

Do blog do professor Orlando Tambosi

A "esquerda" é a "direita"

O historiador italiano Piero Melograni apresenta bons argumentos sobre a relação entre "esquerda" e "direita". Se essa dicotomia ainda existe (e quem me lê sabe que não creio que persista), ela há muito tempo se inverteu. Reacionários são, de fato, os que se dizem "de esquerda".

Segundo a tradição, os socialistas, os comunistas - os coletivistas, em geral - estão à esquerda, enquanto os anticomunistas e os defensores do capitalismo estão à direita. (...) Por quase um século a esquerda sustentou que o progresso estava do lado do socialismo real, vale dizer, do sistema político concretamente realizado na União Soviética e nos países por ela dominados. Milhões de "progressistas" legitimavam sua posição de esquerda graças à solidariedade demonstrada a personagens como Stálin, Brejnev e Ceausescu. Consideravam de esquerda os regimes que conferiam imensos poderes às burocracias, suprimiam as liberdades e empobreciam as massas. (...) E, no entanto, muitíssimos intelectuais ocidentais sustentavam que era precisamente no socialismo que se identificava a maior revolução dos tempos modernos.

O socialismo real fracassou miseravelmente na Europa, mas muitos professores e intelectuais "de esquerda" não ousam admitir que a verdadeira revolução moderna possui características opostas às do socialismo. Desconhecem o valor político da revolução capitalista, apesar de esta ter aplicado um golpe mortal à milenar civilização das elites e ter estendido amplamente a democracia, abolindo os muros que cercavam as cidades, eliminando os vínculos corporativos, elevando a condição feminina, propiciando que informações, mercadorias, pessoas e capitais circulassem com maior liberdade.

O mundo está cheio de paradoxos. Define-se progresso o que é reação, esquerda o que é direita; crê-se que branco é negro. O fato é que todos, à esquerda e à direita, contribuíram para a existência desse paradoxo. Pouquíssimos, entre os capitalistas e seus amigos, têm consciência de seu papel revolucionário e, portanto, "de esquerda". Pensavam ser defensores da tradição, enquanto a estavam destruindo. Nas suas ideologias, exaltavam os princípios anti-modernos, elitistas e mesmo reacionários. Na prática, com suas iniciativas, revolucionavam o mundo inteiro.

(Do livro La modernità e i suoi nemici [A modernidade e seus inimigos], Mondadori, 2000).

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Não é a esquerda e nem a direita, uma sociedade só progride com democracia e liberdade. E o capitalismo só prospera nesse ambiente, então as ditaduras, sejam elas de direita ou de esquerda fazem um mal danado aos países cujos governos insistem em governar com mão de ferro a sua população e tratar o capital como um inimigo.

7:54 PM  

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