sábado, maio 10, 2008

Como vota o brasileiro

Marcelo Carneiro, Veja

Uma pesquisa mostra que o eleitor leva em conta, sobretudo, o benefício imediato que o candidato lhe trará

(...) A Cabeça do Eleitor (308 páginas, 40 reais, editora Record), que será lançado na próxima semana, o sociólogo Alberto Carlos Almeida se arrisca a provocar nova grita.

Com base na análise de 150 eleições – municipais, estaduais e presidenciais –, Almeida analisa a lógica que orienta a escolha de um candidato por parte do eleitor brasileiro.

E chega à conclusão de que essa lógica é bem mais simples do que se poderia supor. Constrangedoramente simples até: o brasileiro vota a favor do governo ou do candidato do governo se considera que sua vida está boa ou melhorou.

E vota no candidato da oposição se considera que ela está ruim ou piorou.

Questões como ética, corrupção, separação entre o público e o privado não entram nessa conta. "O eleitorado, sobretudo o de baixa renda, vota em função de suas necessidades imediatas e da satisfação dessas necessidades", concorda o sociólogo Demétrio Magnoli.

No livro, Almeida enumera os cinco fatores que, segundo ele, compõem a lógica "simples, direta e pragmática" que orienta o voto do eleitor brasileiro.
O primeiro deles, e, de longe, o mais importante, é aquele que o autor chama de "avaliação do governo". O livro mostra que, em todas as eleições presidenciais realizadas no Brasil após o regime militar, os índices de avaliação do governo – tanto positivos quanto negativos – tiveram relação direta com o resultado do pleito. "No caso de governos bem avaliados, o que ocorre é que o eleitor, satisfeito com a gestão em curso, não quer correr riscos", explica Almeida. "Assim, tende a votar no candidato do governo ou no nome que disputa a reeleição." O contrário é igualmente verdadeiro, como mostram alguns dos resultados eleitorais que o sociólogo analisa. Em setembro de 1989, por exemplo, às vésperas da eleição que escolheria o sucessor de José Sarney, apenas 5% da população considerava seu governo ótimo ou bom. Resultado: os candidatos que chegaram ao segundo turno (Fernando Collor e Lula) eram de oposição. (...)

Em segundo lugar, Almeida afirma que, num universo com pouca informação política, é fundamental que o candidato apresente ao eleitor uma "identidade" clara. "Aqueles que marcadamente assumem o papel de situação ou de oposição são os que costumam encerrar o pleito nas primeiras posições", afirma. "O eleitor médio trabalha com grandes emblemas e grandes símbolos." Numa situação em que a maioria da população avalia mal a administração em curso, portanto, é muito mais provável que vença o candidato que se colocou claramente na oposição do que aquele que ficou "sem identidade", ou em cima do muro.
Terceiro - O grau de lembrança que o candidato consegue suscitar no eleitor – aquilo que os especialistas chamam de "recall" – é o terceiro fator determinante para a definição do voto, afirma Almeida. Quanto mais um político disputa eleições para um mesmo cargo, mais conhecido ele se torna. Um caso exemplar é o de Lula, que viu seus índices de votação no primeiro turno das eleições presidenciais subir continuamente. (...)
Quarto - A maneira como o político faz uso do seu currículo é o quarto elemento para a conquista do voto, segundo o livro. José Serra, por exemplo, na campanha municipal de 2004, usou sua condição de ex-ministro da Saúde com boa passagem pela pasta para ficar toda a campanha apontando as deficiências nesse setor da gestão da petista Marta Suplicy – que acabou derrotada. Da mesma forma, Lula, na eleição contra Collor, em 1989, atacou os altos índices de desemprego, usando sua experiência – ou seu "currículo"– de sindicalista.
"É preciso captar o que o eleitor quer, e tanto melhor para o candidato se a realização desse desejo estiver relacionada a uma capacidade que o político já demonstrou ter", afirma o cientista político Rubens Figueiredo.
Quinto - O potencial de crescimento eleitoral, segundo o livro A Cabeça do Eleitor, é o quinto fator mais importante para definir o destino de um candidato. Não raro, ele é prejudicado quando o candidato é muito conhecido, já que, nesse caso, ele tende a ter também uma alta taxa de rejeição. Foi essa equação um dos principais motivos que fizeram com que, em 2002, Leonel Brizola, duas vezes governador do Rio de Janeiro e com quatro décadas de experiência na política, fosse derrotado por um novato num pleito para o Senado. (...) LEIA MAIS
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