domingo, abril 27, 2008

Safra recorde não segura preço de alimentos

Márcia De Chiara, Estadão

A supersafra de 140,7 milhões de toneladas de grãos que o País colhe neste ano garante a comida no prato do brasileiro, mas a pressão de preços dos alimentos no bolso do consumidor deve se agravar nos próximos meses. Previsões indicam reajustes de até 8% no custo dos alimentos em 2008, o que mantém a comida no pódio dos aumentos de preços.

Nos 12 meses até março, os gastos com alimentação no País foram os que mais pressionaram o custo de vida: subiram 11,2% e responderam por mais da metade da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 4,7%.

Por causa da disparada dos grãos nas últimas semanas em razão da escassez global, há consultorias que revisaram de 4,6% para 5% a inflação de 2008 medida pelo IPCA, isso sem levar em conta a provável alta da gasolina.

“A inflação dificilmente cederá no segundo semestre por conta de todas as pressões de alimentos que surgiram nos últimos meses e devem continuar no curto prazo, principalmente de trigo e arroz, que têm impactos relevantes no IPCA”, afirma o economista-chefe da MB Associados, Sergio Valle. Ele reviu para cima a estimativa para a inflação do ano. A projeção de alta dos preços dos bens não-duráveis para 2008 da consultoria era de 6% e subiu para 7,4%. Os bens não-duráveis incluem os alimentos.

A LCA é outra consultoria que elevou o prognóstico para a inflação dos alimentos para 2008, de 6% para algo entre 7% e 8%. “Provavelmente vamos revisar para cima a expectativa de IPCA para este ano, hoje de 4,3%, por causa dos alimentos e da gasolina”, diz o economista Raphael Castro.

Ele observa que, em 12 meses até março, os preços do pão francês e do arroz subiram 15,25% e 7,48%, respectivamente. Desde dezembro, os preços do trigo e do arroz subiram mais de 20% no mercado atacadista nacional, em razão da escassez mundial do grão. “A cotação do trigo hoje está próxima da alcançada na 2ª Guerra Mundial”, observa Castro. Ele acredita que os preços ao consumidor desses dois produtos básicos ainda não refletem totalmente as altas no atacado e, portanto, novas pressões de preços devem ocorrer no varejo.

Castro alerta para outro foco de pressão. “A carne pode virar novo vilão da inflação no último trimestre.” Ele conta que há projeções que apontam para R$ 90 o preço da arroba de boi gordo em setembro. Hoje a cotação varia entre R$ 74 e R$ 76. O motivo da alta é o abate de matrizes que ocorreu na época da crise da febre aftosa.

Apesar da mudança de expectativas em relação às projeções de inflação, o governo diz que não há risco de desabastecimento. “A oferta de grãos está tranqüila, não é folgada, mas bem suportável”, afirma o analista da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão do Ministério da Agricultura, Paulo Morceli.
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