Gaudêncio Torquato, no Estadão:
O governismo de oposição tem florescido na seara do nosso presidencialismo de coalizão. Ancora-se no balcão de recompensas, na repartição de verbas e espaços públicos, tradição que remonta aos tempos coloniais. De lá para cá, a res publica tem sido bastante privatizada. O ensaio de reforma política pós-ditadura militar, por exemplo, inspirou-se em alianças e no clientelismo. A revalorização da democracia, embutida na campanha das diretas-já, também não conseguiu eliminar o balcão de trocas. Na Constituição de 1988 se chegou a vislumbrar o parlamentarismo como antídoto contra o populismo de direita e a ameaça de esquerda. Mas o que sobrou foi um hiperpresidencialismo. Nas últimas duas décadas, a esfera política, impregnada do espírito de mudanças e comprometida com o resgate das instituições, não foi com tanta sede ao pote. Certo pudor ético estabelecia limites às ambições pessoais e partidárias. De maneira gradual, porém, as portas do espaço público se abriram, ao fluxo de uma relação cada vez mais dependente entre Executivo e Legislativo. Foi assim na administração FHC, que conseguia aprovar as matérias enviadas pelo Palácio do Planalto. Mas, neste segundo governo Lula, a prática clientelista chegou ao ápice. E o que poderia ser força se transforma em fraqueza. O governo tem dificuldades para controlar sua base política. ÍNTEGRA

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