sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Desinformação alarmante

Blog de Lúcia Hippolito
O destampatório do presidente Lula ontem em Sergipe pode ser explicado de duas maneiras.

Primeira, o presidente convive muito mal com críticas. Nenhum governante gosta de crítica, essa é a verdade. Todos preferem aplausos e elogios.

Mas o caso de Lula é particularmente agudo. O nível de tolerância do presidente com crítica, qualquer crítica, é baixíssimo. O presidente se descontrola, perde as estribeiras e sai batendo no crítico com uma ferocidade espantosa.

Segunda, o presidente deu um ataque de caso pensado. Cálculo político puro. Irritado com as críticas do ministro Marco Aurélio Mello, Lula escolheu um palanque no interior e, escorado em seus altíssimos índices de popularidade, tentou jogar a população contra o Poder Judiciário.

Não foi a primeira vez, nem será a última, que o presidente desancou seus críticos em palanque, jogando a população contra a oposição, contra a imprensa ou contra as elites. Não importa, é sempre contra o crítico da vez.

É bem possível que as duas explicações não sejam excludentes.

Tudo bem, este é o estilo do presidente Lula. Já estamos habituados.

Mas o que é particularmente assustador no lamentável episódio de ontem é a demonstração de total desconhecimento do presidente a respeito da relação entre os poderes num presidencialismo democrático.

Ninguém exige que o presidente saiba quem foi Montesquieu ou mesmo Thomas Jefferson. Mas Lula é presidente há cinco anos, e demonstra total desconhecimento do funcionamento do regime.

Nos presidencialismos democráticos, funciona um sistema chamado de “freios e contrapesos” (checks and balances). Cada poder fiscaliza permanentemente o outro, para evitar a tirania de um poder sobre os outros. Legislativo vigia e critica Judiciário e Executivo; Executivo vigia e critica Legislativo e Judiciário; Judiciário vigia e critica Executivo e Legislativo.

É assim que funciona. Só na ditadura fica cada poder em seu canto, e o Executivo mandando em tudo.

Aliás, se é para ficar “cada macaco no seu galho”, como se referiu elegantemente o presidente, que tal extinguir as Medidas Provisórias? Afinal, trata-se de atividade legislativa que o Poder Executivo usurpou do Congresso Nacional.

Ensinava o dr. Tancredo Neves que, em política, todo ato gratuito é um erro.

Se não foi cálculo político, o destampatório do presidente Lula terá sido um ato gratuito de grosseria, deselegância e falta de educação.

O que será que o presidente acha que lucra com isso?
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