ANTILOGIA
Antilogia é técnica retórica polivalente e consiste em voltar ao acusador uma outra carga, o que atenua o peso da acusação original. Usado fartamente pela sofística, aquele torneio discursivo foi discutido de muitos modos na filosofia moderna. Um exemplo é dado por Hegel em texto sobre o subjetivismo alérgico à razão e à ciência.
“Escute, minha senhora, seus ovos estão podres”. É o que diz a compradora numa feira à pessoa que vendia ovos. “O que, replica a macróbia, meus ovos estão podres? Vejam quem fala! Os percevejos não devoraram o seu pai num atalho do campo, sua mãe não fugiu com os franceses e sua avó não morreu no hospício? Que ela compre com seu lenço barato uma blusa decorosa! Seus lenços e chapéus, sabemos muito bem como ela os consegue!” (Hegel, GWF: Quem pensa abstrato?).
Antilogia é praticada pela velhota pega em erro. Ela poderia dizer que ovos são delicados e de fato alguns deles apodreceram. Daí, devolveria o dinheiro à compradora ou a ressarcia com produtos sadios. Mas sempre com um pedido de desculpa pela ocorrência involuntária.
(...)
A velha feirante tenta reduzir sua compradora à falta de dignidade para ser ouvida. Os nazistas tentaram reduzir os judeus e demais minorias ao estatuto da animalidade. Os leninistas tentaram reduzir os que resistiam aos seus planos ao estatuto de insetos a serem eliminados. O recurso, com toda a selvageria que ele implica, não funcionou. (...)
“Escute, minha senhora, seus ovos estão podres”. É o que diz a compradora numa feira à pessoa que vendia ovos. “O que, replica a macróbia, meus ovos estão podres? Vejam quem fala! Os percevejos não devoraram o seu pai num atalho do campo, sua mãe não fugiu com os franceses e sua avó não morreu no hospício? Que ela compre com seu lenço barato uma blusa decorosa! Seus lenços e chapéus, sabemos muito bem como ela os consegue!” (Hegel, GWF: Quem pensa abstrato?).
Antilogia é praticada pela velhota pega em erro. Ela poderia dizer que ovos são delicados e de fato alguns deles apodreceram. Daí, devolveria o dinheiro à compradora ou a ressarcia com produtos sadios. Mas sempre com um pedido de desculpa pela ocorrência involuntária.
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A velha feirante tenta reduzir sua compradora à falta de dignidade para ser ouvida. Os nazistas tentaram reduzir os judeus e demais minorias ao estatuto da animalidade. Os leninistas tentaram reduzir os que resistiam aos seus planos ao estatuto de insetos a serem eliminados. O recurso, com toda a selvageria que ele implica, não funcionou. (...)
Os pegos no uso irregular dos cartões corporativos tentam reduzir os acusadores ao plano do preconceito (é o que fez a ministra demissionária e seus assessores) e o governo anuncia sanções contra quem deu conhecimento ao público da notícia escandalosa. Esperemos que a tática bisonha termine aí. Caso contrário, logo a cidadania que paga impostos será posta em currais para ser abatida, porque suas queixas e denúncias prejudicariam o “governo como nunca teve este país”. No atual poder brasileiro ainda resta muito de integralismo e de leninismo. Toda cautela é pouca, diria Spinoza. ÍNTEGRA
Roberto Romano é professor de Ética e Filosofia Política na Unicamp
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