quinta-feira, dezembro 20, 2007

EUROPA IMPÕE RESTRIÇÕES À CARNE BRASILEIRA
A culpa é do governo
Blog de Carlos Alberto Sardenberg (links)
Algumas observações sobre essa decisão da Comissão Européia de impor restrições à importação de carne brasileira:
Há alguns anos, quando comecei a prestar atenção no agronegócio brasileiro, ouvi de um dos líderes do setor uma previsão que então parecia ambiciosa: o Brasil vai se tornar o maior exportador mundial de carnes.
Advertia, porém: só um fator pode atrapalhar isso, o controle sanitário, que é a parte do governo. Batata. Aconteceu exatamente assim.
Ingênuo, perguntei, na ocasião, por que os produtores não cuidavam eles mesmos desse controle.
Porque não pode. A regra internacional determina que isso é função do governo – e faz sentido. É claro que os bons produtores são os primeiros interessados na saúde do rebanho e na qualidade de sua carne. Também são os mais interessados no controle dessas condições sanitárias e, de fato, investem pesado nisso. Mas está claro que o controle tem de ser externo, feito por terceiros e pelo setor público.
A Comissão Européia deu todas as chances antes de colocar restrições à importação de carne brasileira. Durante dois anos, enviou seguidas missões técnicas para visita fazendas e frigoríficos brasileiros, apresentou relatórios, apontou problemas, deu prazo para o governo resolver.
E o governo fracassou. Continua falho o combate à febre aftosa e ineficiente o sistema de rastreabilidade do rebanho. Na verdade, nem precisava de tanto. No último surto de febre aftosa, jornalistas puderam verificar, por exemplo, como bois cruzavam a fronteira Paraguai/Brasil sem qualquer controle.
Todas as falhas são de responsabilidade central do governo federal, do Ministério da Agricultura e, imagino, da Polícia Federal nesse controle de fronteiras.
E aqui se vê claramente o desastre da administração pública. E que não venham colocar a culpa num suposto arrocho dos gastos públicos. A despesa com pessoal do governo federal tem aumentado, em média, 12% ao ano. E não tem dinheiro para fiscais agrícolas? As despesas com custeio e investimento têm crescido ainda mais, na base de 17% ao ano. E não tem um bom sistema de rastreabilidade do gado, que nem é caro?

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