quarta-feira, setembro 26, 2007

Planalto usa verbas para botar deputados e prefeitos no cabresto.
Ranier Bragon, Folha de S. Paulo: O Palácio do Planalto está engordando sua base na Câmara prometendo facilitar a liberação de verbas do Orçamento para as emendas de deputados que deixarem a oposição.
A prática é conhecida, mas ontem a Folha ouviu isso abertamente de dois deputados da oposição que estão migrando para partidos da base aliada.
São eles Cláudio Cajado (DEM-BA) e Geraldo Thadeu (PPS-MG). No caso de Cajado, segundo disseram à Folha um líder da oposição e outro governista, a oferta de emendas partiu do encarregado pelo Planalto pela articulação política -o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais).
--É a questão do apelo dos prefeitos. Os prefeitos estão apelando para que eu apóie o governo aqui em Brasília.
A Folha foi procurar os prefeitos das cidades representadas por Cajado e falou com um deles, que confirmou a história.

Trata-se de Reinaldo Barbosa Góes, prefeito de Iuiú, município de 10.230 habitantes na Bahia, quarta cidade do Estado que mais votos deu a Cajado (3.358).

--Ele deve ir para um partido da base do governo porque a gente sabe que sem o apoio do governo fica difícil. Ter um deputado contra o governo, principalmente governo federal, a gente sabe que inviabiliza muitos de nossos projetos. Não deveria ser assim, mas é", disse o prefeito Góes, afirmando que não saiu até agora nem um centavo da emenda de R$ 1 milhão destinada pelo deputado para calçamento das ruas de Iuiú.
Já [deputado] Geraldo Thadeu, de mudança do PPS para o PMDB, disse que pesou na decisão o fato de as cidades de sua base, na região de Poços de Caldas, terem mais facilidade para obter recursos:

--Execução de emenda é sempre um problema. Claro que se você vem de um partido da base fica mais fácil.

As emendas dos deputados destinam-se quase sempre a pequenas obras em seus redutos. A liberação é decidida pelo Executivo, que pode não liberar nada. Historicamente ele direciona mais verbas aos aliados.

Reportagem da Folha mostrou que a liberação de verbas a emendas dos que apoiaram a prorrogação da CPMF foi em valores 52% superiores à reservada aos que foram contra.
O líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR), um dos partidos que mais engordaram a bancada, explica que a pressão dos municípios para liberar emendas é muito grande sobre o parlamentar:

--É bom estar com o governo quando o deputado tem municípios na sua base muito dependentes de recursos do Orçamento federal.
Pelo menos 21 deputados e senadores negociam mudar de partido, a maioria para legendas do governo. O bloco de apoio a Lula na Câmara elegeu 354 e já conta com 378. A oposição elegeu 158 e caiu para 133. ÍNTEGRA
***
A "democracia" brasileira é assim. Não respeita partidos, não respeita eleitores, não respeita autonomia municipal, não respeita o princípio federativo. Deputado não é para "pensar" o País. Deputado serve é para trazer verbas (que deveriam ser distribuídas automaticamente).
Quanto mais jogo-de-cintura, ou seja, mais adesista, mais puxa-saco e mais sem-vergonha for o deputado, mais chance ele tem de continuar na política.
E os prefeitos? Ou transformam as prefeituras em comitês eleitorais de deputados verbeiros (de vários partidos, uai...) ou ficam chupando o dedo!

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