sexta-feira, julho 20, 2007

Vai-se o último coronel [morre ACM]
Blog de Lucia Hippolito
A trajetória política de Antônio Carlos Magalhães foi toda ela uma prova da resistência do coronelismo na política brasileira, um fenômeno cuja morte vem sendo anunciada há uns 50 anos, pelo menos.
Manifestação típica da República Velha, o coronelismo, como símbolo da truculência e do mandonismo local, entrou em decadência e estava marcado para morrer com a redemocratização de 1946.
Entretanto, a permanência dos elementos que deram origem ao coronelismo, como analfabetismo; massas mantidas deliberadamente na ignorância; fraude eleitoral; ausência de políticas públicas de saúde, educação, habitação e emprego, acabaram garantindo a sobrevida dos coronéis.
Através do controle das nomeações políticas, do fisiologismo e do clientelismo, os coronéis continuaram a controlar seus currais eleitorais com mão de ferro e atitudes paternalistas. O coronel é o grande pai que vela por seu rebanho.
Com a evolução da tecnologia, o coronel tomou um banho de modernidade. Dono de jornal, passou também a ser proprietário da emissora de rádio e da repetidora de TV. Transformou-se em coronel eletrônico, tudo para conservar o controle sobre seu povo.
A história de Antônio Carlos Magalhães poderia ter sido a de um típico coronel: todo-poderoso no interior, mas sem trânsito na capital.
Quem projetou nacionalmente a figura de Antônio Carlos Magalhães foi a ditadura.
Através de suas relações com os generais-presidentes, ACM foi governador, ministro, influiu na redemocratização, infernizou todos os governos a partir de 1985.
Amado na Bahia, fazia aliança com o diabo para conseguir recursos para seu estado. Fez muito pela Bahia e pelos baianos.
Preparou o filho, político mais cosmopolita, para vôos mais altos do que a simples truculência coronelista local. Queria Luiz Eduardo presidente da República.
Depois da morte do filho e do episódio da violação do painel de votação do Senado, em que teve que renunciar ao mandato para não ser cassado, ACM nunca mais foi o mesmo.
O outono do coronel chegou bem antes de sua morte. Mesmo sendo reeleito senador, Antônio Carlos reduziu-se à política baiana, tentando conservar seus postos de mando.
A perda do governo da Bahia, verdadeira jóia da coroa da Pefelândia, para o PT, nas eleições de 2006, foi o golpe de misericórdia numa liderança que, um dia, pensou ser dono do país e do seus governantes.
Vai-se o último dos grandes coronéis da política brasileira. Sobraram apenas contrafações.
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Pois é, dona Lucia, o que tem de coronelzinho "moderno", urbano, de fala mansa, nas câmaras municipais daqui da região de Pedra Chata não está escrito ...
Eles deixam os prefeitos à vontade, livres de fiscalização, a troco de favores públicos para eleitores cativos que os eternizam no poder ...
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