domingo, julho 08, 2007

CRIATIVIDADE DOS POLÍTICOS
Pois é, caro Sebastião Loureiro, quem disse que aos nossos políticos carece criatividade? Quando se trata de treta, eles são verdadeiros gênios. Mas se inventam, é sempre a partir de uma pauta, da qual se aproveitam os filhos da pauta, para gerar novos métodos. A pauta chama-se Brasil Imperial, onde tudo é concentrado no poder nuclear, em evidente despostismo.
Montesquieu dizia que países imensos não podem ser governados republicanamente, mas apenas de maneira despótica. Justo por tal motivo, a Federação foi uma espécie de reinvenção moderna, para diminuir os males do despotismo. Mas aqui, a Federação é conto da carochinha. Os municípios e os Estados são apenas nominalmente autônomos, sobretudo nas finanças. Quem não é amigo do Imperador não tem recursos. Oposição é coisa proibida.
A cada instante me convenço mais de que, infelizmente, tenho alguma razão. O Brasil é um caso de retomada tardia do absolutismo. Como fomos instaurados, como forma estatal "independente" para combater os frutos das revoluções inglesa, francesa, norte-americana, tudo aqui vai contra o princípio republicano e democrático, elementos que resultam do Estado de direito. Aqui não temos dirigentes políticos, temos enobrecidos que se tornam mais importantes do que os contribuintes. Veja agora, no apagão aéreo. A cidadania que paga as contas permanece nos currais ditos "salas de espera", mas os políticos, a começar com a Maria Antonieta indecente, só usam os aviões da FAB (Folha, 08/07/2007). Depois da desbocada e desrespeitosa madame, a lista segue com Patrus Ananias, e quejandos. No Ancien Regime, os nobres tinham privilégios de roupa (certas cores e cortes eram destinados apenas para eles, donde o espetáculo cinzento do Terceiro Estado, sempre vestido de preto e branco...), de lugar, de condução, etc. Como os nossos políticos são tudo, menos nobres, é difícil encontrar um estamento para eles. Eu diria que se trata de um coletivo oligárquico, que integra círculos de poderosos nacionais, regionais, locais, paroquiais. Com privilégio de foro, o que lhes dá salvo conduto para delinqüir, com aviões privados (mas do governo), com locais destinados apenas a eles (a sala mais do que Vip do aeroporto de Brasilia, entre várias), aqueles políticos constituem um Estado dentro do Estado, como por exemplo as facções criminosas que arrancam do poder público parcelas de soberania territorial, etc.
Falta muito, muito mesmo, para o Brasil chegar às modernas formas de administração, legislação, justiça. Só resta aos inconformados ou sonhadores, gritar "Aqui d´El Rey" e fugir rumo à Africa. No Brasil, os Quixotes são raros, os salafrários se reúnem em legiões. Como diz Elias Canetti, a massa dos salafrários que ocupam cargos públicos, é escura de tanta gente. Nada, aliás, que não tenha sido invectivado pelo Padre Vieira quando fala dos "pegadores" (os chaleiras palacianos de sempre) e dos "laterones".
Deus nos proteja.
Roberto Romano (aqui)
(Obrigado professor Roberto pela atenção e pela aula)
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