terça-feira, abril 24, 2007

PLANTIO DIRETO E CONSERVAÇÃO DO SOLO
Xico Graziano, no Estadão: Em 1973, o agricultor Herbert Bartz experimentou em Rolândia (PR) uma nova técnica, conhecida como “plantio direto”. Logo em seguida, as cooperativas regionais a introduziram nos campos. Recém-criados, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) participaram da novidadeira empreitada. Sinal de sucesso.
Resultado: nascia outro método, este, sim, revolucionário, no combate à erosão do solo. Qual a diferença? O plantio direto renega a aração e a gradeação do terreno, realizando a semeadura sem revirar o solo. Parece incrível, mas essa mudança significou o “pulo-do-gato” da agricultura brasileira.
Minhoca só aparece em solo fértil. Em 1979 surge, em Ponta Grossa, no Paraná, o primeiro “Clube da Minhoca”. Depois, aparecem os “Clubes Amigos da Terra”. Cresce em todo o País o movimento em favor do Sistema de Plantio Direto (SPD).
Com o avanço da tecnologia mecânica e o uso de herbicidas biodegradáveis, o novo processo se aprimorou, expandindo-se pelo cerrado no Centro-Oeste. O resultado é, simplesmente, fantástico. Sem arar nem gradear, gasta menos combustível, não compacta o solo, custa mais barato e ainda elimina a erosão. Só vendo para crer.
A mudança do paradigma científico se encontra num livro extraordinário, intitulado Manejo Ecológico do Solo, lançado em 1979 pela agrônoma Ana Maria Primavesi. Nunca, antes, alguém expusera, com tanta clareza, a diferença entre as características do solo tropical e do temperado. Tornou-se um ícone entre o moderno conservacionismo.
Nos países frios, revirar o solo com o arado expõe sua profundeza, aquecendo-o ao sol no final do inverno. Surge benéfico. Nos trópicos, o efeito é deletério, pois expõe o solo úmido ao raio torturante, queimando sua matéria orgânica. Aniquila, em vez de estimular, a vida microbiana. Pior: libera carbono para a atmosfera.
A mecanização intensiva provoca a compactação do solo, geralmente na linha de 30 centímetros abaixo da superfície. Cria uma crosta dura para as raízes, impermeável no terreno, incapaz de oferecer percolação para a água de chuva. Favorece, dessa forma, a erosão. Bê-á- da nova agronomia.
Cada centímetro de solo exige séculos para se formar. Custa uma fortuna na contabilidade da natureza. Nesses tempos de aquecimento global, teme-se pela desertificação, que dramaticamente já se verifica em certas áreas agrícolas do mundo, incluindo o semi-árido nordestino. Nova batalha terá de ser vencida pelos conservacionistas.
A cada época, um desafio. Parece um alerta, quase um castigo, como se aos agricultores fosse necessário sempre lembrar que o solo é patrimônio da humanidade. ÍNTEGRA
Essa revolução agrícola eu testemunhei.
Primeiro - vi desde os anos 1950-60, lá na Turiba, pequenos agricultores (hoje são chamados de "agricultura familiar"), com arados de burro, provocarem muita erosão no solo (arenoso). Inclusive o assoreamento do Ribeirão da Furquilha, cujas margens ganharam barrancos de areia de até 5 metros de altura! Não só vi, como ajudei minha família a arar terras. Meu pai logo percebeu o estrago, e antes que fosse tarde, tratou de plantar capim (pasto).
Depois, vi o "plantio direto" chegar na região, com muito sucesso. Um dos pioneiros por aqui foi o senhor Nelson Schreiner, de Itapeva, que trazia o pessoal do Paraná para dar palestras.
PS - ali pelo final dos anos 1980, então funcionário do Banco do Brasil, fui visitar a Fazenda Vitória. Encontrei o administrador, seu Carlos, desesperado. Uma chuva forte fez estourar as curvas de níveis e o solo, recentemente arado, estado cheio de buracos, devido a força da enxurrada. Além do prejuízo material, havia uma outra preocupação. É que a Fazenda Vitória era tida como exemplo de conservação de solo, havia mesmo conquistado seguidos prêmios por isso. Saía nos jornais, era notícia.
"Já pensou se o pessoal que avalia e escolhe as fazendas premiadas por conservação do solo chegam aqui e vêem essa barbaridade", lamentava seu Carlos.
Ali tive a certeza de que o método de contenção da enxurrada através de terraços não era eficaz. Se a Fazenda Vitória, praticamente plana, não estava conseguindo, imagine terras mais caídas.
Aí apareceu o abençoado "plantio direto" para a salvação da lavoura.

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