Entrevista: Marco Antônio Villa, historiador - 'Nenhum presidente passou à história só com carisma'
Angélica Santa Cruz, no Estadão:
O caos imperou nos aeroportos no Natal, assombrou todos os feriadões e voltou a parar o País há uma semana. Por várias vezes, o governo declarou que a crise estava debelada. Para o historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos, a administração da crise aérea é mais um dado da personalidade “indecisa” do presidente da República. Observador cáustico do governo, Villa afirma que Lula é inebriado por tudo o que é externo ao ato de governar, mas é avesso às obrigações executivas e montou um governo concebido para não decidir. “Nenhum presidente sobreviveu à história só com carisma. Getúlio era um administrador dedicado.”
O governo Lula tem sido identificado com a dificuldade de tomar decisões políticas e administrativas. O senhor concorda?
Lula não sabe tomar decisões, não fica confortável diante delas. É uma característica pessoal. Em 1980, por exemplo, sumiu de vista em dias decisivos da greve em São Bernardo do Campo. “Cadê o Lula?”, perguntavam todos. Estava em um sítio, perto de uma represa. Foram lá dar uma dura nele e ele reapareceu no dia seguinte, na assembléia da Vila Euclides. O jornal local estampou a manchete “Ele voltou!”. Lula tem uma dificuldade de tomar decisões que não começou na Presidência, ficou evidente em todos os momentos-chave de seu primeiro mandato e reapareceu agora, no primeiro trimestre de seu segundo governo. O apagão aéreo é apenas um exemplo de uma lista extensa.
Em que momentos essa característica ficou evidente?
Há até excesso de exemplos. Foi assim quando Lula tentou fazer a primeira reforma ministerial, processo que levou cinco meses e, ao final, acabou em mudanças irrelevantes. Foi assim com a escolha dos novos nomes do segundo mandato, que só acabou há poucos dias com a nomeação de mais de 34 ministros e secretários importantes. É a maior equipe da história do Brasil. Nesse ritmo, por pouco não dividiu a Secretaria Especial da Pesca nas pastas da Água Salgada e Água Doce. Ainda assim, aí está o Ministério da Defesa à espera de uma decisão. Na dificuldade de fazer escolhas, o presidente fatiou o governo para acomodar 11 partidos, outro recorde histórico. É impossível ter homogeneidade de decisões assim. Portanto, é um governo concebido para não decidir. LEIA A ENTREVISTA
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