A redução da desigualdade depende essencialmente da vida pública, da política e da consciência de cidadania
Economista André Lara Resende
"Dada a comprovada e esmagadora superioridade do sistema capitalista na geração de riqueza, concluir que a solução é sacrificar o capitalismo, é quase tão absurdo quanto concluir que a solução é sacrificar a democracia.
A organização da sociedade como democracias capitalistas de massas - revelou-se capaz de progressos materiais e científicos extraordinários.
Esta mesma modernidade demonstrou-se incapaz de resolver de forma automática as questões da exclusão social e da desigualdade. A redução das desigualdades, não sendo conseqüência automática do progresso material e do avanço da modernidade, é uma opção política. Depende essencialmente da vida pública, da política e da consciência da cidadania.
A desvalorização da vida pública e o descrédito da política têm, entretanto, raízes profundas na modernidade. Possivelmente, como defende Hannah Arendt, está associada à própria valorização do trabalho e da vida privada que acompanhou o avanço do capitalismo industrial do século 19. Um fenômeno que atinge o seu ápice com a consolidação do capitalismo de massas globalizado deste início do século 21.
A modernidade, enquanto desvalorizadora da vida pública e da política, é sempre um fator de erosão progressiva da base cultural e institucional da qual ela não pode prescindir.
No caso do Brasil, como dos demais países onde a tentativa de implantar a essa base cultural e institucional coincide no tempo com aspectos avançados da modernidade, a situação é particularmente perversa: o sucesso da modernidade no segmento mais avançado da sociedade desvaloriza a vida pública, a política e a cidadania, muito antes da incorporação dos setores excluídos .
Ora, se não existe alternativa à altura da moderna democracia capitalista de massas para garantir a criação de riqueza, se a modernidade desvaloriza a vida pública e a política, sem o que não há como reduzir as desigualdades, estamos diante de um desafio extraordinário. O esforço para superar o subdesenvolvimento e transformar os países em sociedades democráticas e equânimes será necessariamente frustrado enquanto não for encontrada a resposta para o desafio de compatibilizar a modernidade com a valorização da vida pública e da cidadania.A saída não é evidente nem simples." AQUI
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