"Faz parte da nossa cultura ibérica gostar do afago do Estado. Mas, como escreveu Eça de Queiroz, a mãe governo é pobre; como é pobre, paga pouco, e essa pobreza vai se perpetuando."
Veja – Como é possível elevar a produtividade?
Armínio Fraga – Em primeiro lugar, investindo em educação. Sem capital humano o país não vai produzir mercadorias de maior valor agregado e não terá como competir num mercado globalizado. O governo atual não mostrou coragem para gastar menos com educação superior e mais com educação básica nem introduziu elementos de concorrência para melhorar a qualidade do ensino, com promoções vinculadas ao mérito. Mas não é só isso. É preciso também criar condições para que a poupança e o investimento aumentem, além de abrir mais a economia à concorrência internacional. Isso sem falar de uma reforma tributária que diminua a informalidade e a carga daqueles que pagam impostos.
Veja – O senhor já foi do governo. Por que é difícil transformar diagnósticos como esse em ações?
Armínio Fraga – Porque no governo não basta capacidade técnica. É preciso convencer a sociedade e, em particular, os políticos a tomar decisões difíceis e que muitas vezes não dão frutos a curto prazo. É preciso enfrentar interesses particulares que se contrapõem ao bem do país como um todo. Em política as coisas não são tão nítidas quanto no mercado financeiro. Há pressões de todos os lados. São pequenos grupos, às vezes não tão pequenos assim, que buscam defender os seus interesses de maneiras visíveis e invisíveis.
É uma briga inglória. A maioria é silenciosa, ao passo que esses grupos esperneiam, fazem lobby, ganham espaço na mídia e com isso abocanham fatias do Orçamento e postergam reformas. ÍNTEGRA
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