domingo, janeiro 21, 2007

Começa a ficar ululante o dano para a sociedade brasileira decorrente da apreciação do câmbio: redução do PIB, redução de empregos, dificuldade para altas tecnologias, deslocamento para o exterior de empresas líderes
Um basta à desindustrialização
Luciano Coutinho, Folha de S. Paulo
COMEÇA A ficar ululante o dano para a sociedade brasileira decorrente da significativa apreciação da taxa de câmbio desde 2004 e notadamente ao longo de 2006.
O dano macroeconômico já ficou claro: o forte aumento do quantum da importação, acompanhado por simultânea desaceleração do quantum da exportação, reduziu o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2006 para menos de 3% (quando poderia ter sido de 4,2%, correspondente ao crescimento da demanda agregada doméstica).
Ressalte-se a explosão das importações de bens de consumo duráveis (aumento de 56% no ano passado) e também das de bens não-duráveis (aumento de 31%), explicitando ineficiência macroeconômica (dissipação de divisas em gastos de consumo). Sublinhe-se também a significativa expansão das importações de matérias-primas e bens intermediários, provocando desaceleração do crescimento da produção doméstica e causando esvaziamento da agregação de valor nas respectivas cadeias industriais.
Do ângulo da balança comercial, o superávit externo da indústria já começou a minguar. Depois de ter alcançado US$ 31 bilhões em 2005, caiu para US$ 29,5 bilhões em 2006.
O amesquinhamento do crescimento do emprego é sem dúvida a manifestação mais onerosa da apreciação cambial. A partir dos estímulos cambiais de 2001 e 2002 e sob o empuxo de forte expansão das exportações, ocorreu, desde 2003, uma reversão do desassalariamento e da informalização com crescente criação de postos de trabalho formais. Esse movimento foi especialmente firme ao longo de 2004 e durou até meados de 2005, quando a política de juros tornou-se contracionista.
Em 2006, o crescimento do emprego industrial foi medíocre (pelas estatísticas da CNI) ou pífio e estagnante pelas estatísticas do IBGE.
A destruição de empregos industriais vem fustigando os setores intensivos em trabalho (vestuário, calçados, moveleiro). O emprego fabril em vários pólos importantes no Nordeste nesses setores está ameaçado. As possibilidades de avanço em alta tecnologia se vêem muito prejudicadas.
Com efeito, o custo em moeda estrangeira dos serviços associados às tecnologias de informação - que são terceirizados globalmente e para os quais o país tem gente qualificada - tornam-se gravosos com a taxa de câmbio supervalorizada.
Acresça-se a tudo isso o fato de a apreciação cambial motivar empresas líderes a deslocar para o exterior investimentos que poderiam ser feitos no país criando emprego aqui, e não alhures.
Pede-se um basta à continuidade dessa apreciação destrutiva!
LUCIANO COUTINHO , 60, é consultor e professor convidado do IE/Unicamp.
Comentário. Dólar baixo, a médio prazo, tira dinamismo da economia. Mas, no curto prazo, ajuda a reeleição ... Lula e FHC que o digam ...
É que dólar baixo barateia os produtos importados, e por tabela, os produtos nacionais (para a alegria dos consumidores-eleitores). E depois? Depois, os empresários, para concorrerem com os importados, ou reduzem área de plantio, ou cortam custos (salários etc) ou vão embora, os que podem, para o exterior atrás de melhor ambiente de negócio, ou seja, de rentabilidade.
No fundo, a divergência sobre o valor do câmbio reflete a divergência entre imediatismo eleitoreiro e crescimento sustentado da economia.
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