domingo, outubro 08, 2006

SOCIOLOGIA DO VOTO
ELEITORES DEFENDEM SEUS INTERESSES ECONÔMICOS

Reportagem da Folha com moradores de duas cidades, onde Lula e Alckmin tiveram as maiores votações relativas.

Manaquiri (AM) – 93,3 % dos votos válidos para Lula

Dos 8.798 eleitores aptos a votar na cidade, 75% ganham o Bolsa Família. Dos 6.407 votos válidos, 5.982 foram para Lula.
"Faz cinco meses que recebo o Bolsa Família, e a energia chegou na minha casa neste ano. Isso é uma ajuda para a gente melhorar nossa vida", afirmou a ribeirinha Marineuza Pereira Pinheiro, 40, que ganha R$ 95 do programa e mantém três filhos na escola. "O pessoal está falando que se o Lula perder vão tirar a luz e a bolsa. Aí ficamos com medo."
Manaquiri fica ao sul de Manaus. De lá, o acesso é por via terrestre e fluvial: um trajeto de uma hora de balsa pelos rios Negro e Solimões, passando depois pela BR-319 e pela AM-354, num percurso de 155 km.
A ribeirinha Jacirene de Almeida, 26, ganhou cesta básica durante a seca do ano passado. Ela recebe R$ 80 mensais do Bolsa Família. "Todo mundo aqui tem medo de não receber [o benefício]. Com o dinheiro, compro o material escolar e alimento."
O missionário da Igreja Assembléia de Deus na comunidade de Andiroba (a 15 km de Manaquiri) Lauro Medeiros dos Santos, 58, disse que vai continuar orando para Lula -e para ser beneficiado pelo programa. "Estamos orando para Deus, intercedendo para que ele [Lula] ganhe. Tenho fé que vou ganhar o Bolsa Família."
"Tenho fé que ele [Lula] vai ganhar. Esse outro [Alckmin] vai tirar a Zona Franca de Manaus, vi isso na televisão. Não voto nele é nunca", diz o aposentado [1 SM] José Raimundo Lopes, 71 anos.


Ipiranga do Sul (RS) – 82,8 % dos votos para Geraldo Alckmin

Das 1.209 pessoas (82,8% dos votos válidos) que escolheram o candidato tucano na pequeníssima Ipiranga do Sul, no noroeste gaúcho, tem gente que nem sabe bem como se chama o ex-governador paulista, mas sabe muito da crise que afeta a razão de ser do município: a agricultura.

"Sempre houve altos e baixos, mas a agricultura nunca atravessou uma fase tão difícil", diz Pedro Rodighiero, 43, um dos maiores produtores de soja, milho, trigo e cevada da região, dono de 2.100 hectares.
A saca da soja, por exemplo, chegou a R$ 52. Hoje, o piso dela é R$ 24, sendo que nas secas de 2003 a 2005 foi negociada até por R$ 17.
Lula não pode fazer chover, mas deveria, na visão dos produtores, desvalorizar o real para melhorar as exportações, elevar o preço mínimo da saca de soja para cerca de R$ 30
A crise também afeta os pequenos. Odelci José Menetriér, 64, que herdou 12,5 hectares do pai. "Aqui na colônia [Linha de Lanora] eram 18 famílias, agora são nove. Estão indo embora. Mas só sei trabalhar na terra, não tenho estudo, o que eu vou fazer?", angustia-se ele, para quem "com Fernando Henrique já não era lá essas coisas, mas piorou muito, porque Lula detonou a agricultura".
"Mais de 90% das famílias sobrevivem da agricultura e estão em dificuldade por causa da inadequação da política cambial e da indefinição da agrícola. Elas encontraram no outro candidato [Alckmin] uma esperança", diz o atual prefeito, Gilberto Tonello, 43.
"Se a gente pudesse esmagar com o dedo o PT na cidade, a gente esmagava. Não vamos deixar se criarem aqui", promete o secretário de Administração, Ronei Cecconello, 42.

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