segunda-feira, setembro 25, 2006

MACROECONOMIA DO NÃO CRESCIMENTO
Luiz Carlos Bresser-Pereira, na Folha

"O quadro fiscal brasileiro pode ser resumido nos seguintes termos: despesa pública de 40%, carga tributária de 37%, investimento de 1%, despesa corrente de 36%, dos quais 8% com juros e 28% do PIB com outras despesas. Uma proposta razoável seria a de o governo reduzir para a metade a despesa com juros e fazer um ajuste de dois pontos percentuais do PIB nas outras despesas, resultando daí um superávit nominal de 3% do PIB.

Os 3% poderiam ser divididos em um aumento em duas partes iguais, 1,5 ponto percentual para aumento dos investimentos e 1,5 ponto percentual para diminuição da carga tributária."
Traduzindo: de cada 100 brasileiros que trabalham:
40 trabalham para financiar o governo com impostos (desses 40, 8 trabalham para o pagamento de juros, apenas 1 para financiar a construção de estradas, escolas e outros investimentos governamentais);
20 trabalham para o futuro: reposição e construção de máquinas, casas, galpões, fábricas, tratores, arados etc para aumentar a produção futura. São os investimentos, indispensáveis para manutenção e ampliação da produção;
40 trabalham para produzir, distribuir comida, roupa, remédio etc para consumo de toda a população.
Os gastos do governo não seriam problema, se não prejudicassem o investimento, que anda por volta de 20 % - 20 trabalhadores em 100 - claramente insuficientes para o crescimento, para a geração de emprego e renda! (China e Índia crescem bastante porque o investimento é de 30 % a 40%!)
Economia é matemática. Não é ideologia, não é voluntarismo. Não há uma economia de esquerda, outra de direita. As fórmulas matemáticas são únicas!
Trabalho (produção) = consumo + investimento
Para gerar emprego, tem que crescer! Para crescer, tem que aumentar o investimento. Para aumentar o investimento, tem de cortar despesas de custeio/consumo.
Onde cortar? Aí sim é uma decisão política. A "direita" defende o aumento dos investimentos, especialmente os privados, pelo Mercado. Ao contrário, a esquerda quer aumentar o consumo, aumentar o tamanho do Estado.
No entanto, o Brasil, faz tempo, não faz nem uma coisa nem outra! Ou faz pela metade.
Por que não faz? Ora, o governo gasta com os juros altíssimos 8 vezes o que gasta com construção de estradas, escolas, postos de saúde.
Juro alto é de esquerda ou de direita? Juro alto é aberração, é suicídio, é desvio. Significa que 8 % dos trabalhadores (escravos das finanças?) trabalham para os agiotas, para a renda dos endinheirados. Quando poderiam estar plantando feijão, fazendo camisas, para o consumo e bem-estar. Ou fazendo tratores para outros plantarem mais arroz!
O pior é que ainda os homens têm a cara-de-pau de se dizerem de "esquerda"? E os bobos acreditam!
E tome bolsa família!
E tome dólar baixo, que quebra os produtores agrícolas e industriais e desestima mais ainda o investimento!
Depois, com a mesma cara-de-pau, com o mesmo desrespeito à matemática, dizem que o desemprego é culpa da globalização, do neoliberalismo!
P.S.: o juro que o governo paga em VINTE DIAS é maior que toda a Bolsa Família paga EM UM ANO!

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