O outro lado
Folha de S. Paulo - 12/04/2010 |
NO MOMENTO em que as primeiras movimentações da postulante governista à eleição presidencial pautavam-se pela vacuidade propositiva, pelo frenesi marqueteiro e pelo intuito de convocar o eleitor para um pueril plebiscito entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, o discurso de lançamento da candidatura do ex-governador José Serra deixou esperanças quanto a uma disputa mais madura, serena e voltada para temas que interessam ao futuro do país. O candidato tucano não detalhou propostas e não submeteu à opinião pública um plano de governo, mas esclareceu com que intenções e princípios pretende chegar ao Planalto. Percorreu as principais áreas de atuação do Estado e, entre outros tópicos, deteve-se na estagnação da escolaridade entre adolescentes, na importância do ensino técnico, nos compromissos com a saúde pública, na proposta de mais participação federal na segurança e nos descaminhos da atuação diplomática. No terreno econômico, criticou o baixo nível dos investimentos governamentais e alertou para os riscos de desequilíbrio nas contas externas. Sem citar nomes, Serra sublinhou aspectos negativos associados ao lulismo e ao PT, como o sectarismo, a intolerância e o fisiologismo corrupto. Insistiu no mote do "Brasil pode mais" e procurou desmontar a estratégia do "nós contra eles". Rechaçou a ideia de "dividir o Brasil" entre pobres e ricos e lançou-se como um conciliador que aspira a governar "com todas e todos, sem discriminar ninguém". Derrotado por Lula em 2002, o ex-governador declarou, em entrevista à Folha, que teria aprendido com a derrota. Não se sabe no entanto como o candidato de agora será diferente daquele de oito anos atrás. Certo é que depois de sua inconclusa passagem pela prefeitura, Serra fez, em quatro anos, um bom governo no Estado de São Paulo, aprovado por 55% da população -mas sem o brilho de sua passagem pelo Ministério da Saúde. Os números de sua administração, dissecados ontem pela Folha, mostram que as críticas endereçadas às dificuldades de investimento do governo federal serviriam para sua própria gestão. O ex-governador no entanto soube criar receitas temporárias e superar de maneira convincente a performance do antecessor. Sua principal vitrine foram as obras viárias, com destaque para o Rodoanel e a ampliação da marginal do Tietê, e as melhorias na rede de trens e metrô. São sem dúvida significativas para uma cidade como São Paulo. |
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