Folha de S. Paulo |
A ponte ruiu |
Eliane Cantanhêde |
BRASÍLIA - OBrasil perdeu totalmente as condições de exercer uma de suas especialidades na solução da crise em Honduras: a capacidade de liderança e de mediação. Ao meter os pés, as mãos e a embaixada em Tegucigalpa na defesa apaixonada de um dos lados, o do presidente deposto, Manuel Zelaya, o governo Lula se colocou num duelo com o presidente golpista, Roberto Micheletti -que, ao mesmo tempo, recusa sistematicamente a participação da OEA (Organização dos Estados Americanos). Chegou-se assim ao pior dos mundos: Micheletti radicaliza de um lado, Zelaya radicaliza de outro. Um decreta estado de sítio, põe as tropas na rua, determina a invasão a uma TV e a uma rádio, insiste numa eleição ilegítima desde a origem. O outro usa a embaixada brasileira como bunker para instigar a desobediência civil no país. O que cheira a sangue. Enfim, a situação é dramática, com o risco real, nada fictício, de que Micheletti continue se deslumbrando no papel de típico golpista bananeiro e acabe por invadir a embaixada brasileira. E que leve o país a uma guerra civil. Isso tudo é improvável, mas não impossível. Mas o Brasil cometeu um grande erro: entrar na linha de frente contra Micheletti. Antes, hospedava um presidente deposto por um golpe militar. Agora, hospeda uma bomba pronta a explodir. |
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