segunda-feira, janeiro 07, 2008

O público e o privado

Claudia Costin, O Estado de S. Paulo

Fernanda Montenegro declarou certa vez, em entrevista, que no Brasil o que é público é percebido como de ninguém e poderia, portanto, ser dilapidado. Comparava-nos com países culturalmente mais avançados onde, segundo afirmava, o público seria o equivalente a algo que pertence à coletividade. Assim, bancos em praças públicas, estátuas que procuram registrar nossa História, escolas ou centros de saúde poderiam sofrer agressões, pois, afinal, não seriam de particulares.
Esta triste noção de coisa pública não se restringe a justificar depredações. Leva a tornar aceitáveis a privatização de equipamentos e serviços públicos. Não me refiro à venda de ativos a empresas privadas, na seqüência de audiências públicas, editais e licitações. Aqui, o que me chama a atenção é a articulação de interesses privados para a utilização, por um grupo específico, de algo que pertence à coletividade.

Este fenômeno se revela sob múltiplas modalidades. Uma bem conhecida é o corporativismo, quando o interesse de um grupo de profissionais ligados a determinada prestação de serviço se sobrepõe ao interesse de cidadãos beneficiários ou é propositadamente com ele confundido. É quando, por exemplo, demandas de professores são apresentadas como condições para a melhoria da aprendizagem das crianças (como o abono de faltas não justificadas por mês), ou de médicos que estabelecem plantões virtuais. O corolário desta prática é a degradação dos salários, num círculo vicioso que leva à desprofissionalização do serviço público.
MAIS
Google
online
Google