domingo, maio 13, 2007

'Política de cotas produzirá um País dividido' - Entrevista: Yvonne Maggie
Estadão
Adversária da reserva de vagas nas universidades públicas para negros e pardos, a antropóloga Yvonne Maggie, da Universidade Federal do Rio (UFRJ), vê no Estatuto da Igualdade Racial um perigo: o da racialização das relações sociais no Brasil, com a oficialização do racismo. Para ela, o problema não é só a criação de cotas, mas a transformação da raça em selo que acompanhará o brasileiro do berço ao túmulo, levando à cisão da sociedade. Yvonne cita exemplos trágicos de conflito racial, como Ruanda, país africano onde o confronto de etnias matou milhões, e ressalta: 'Raça não existe.'


Como a senhora avalia a proposta de Estatuto da Igualdade Racial?
O que falei e continuo falando, ad nauseam, é que essas políticas que entronizam a idéia de raça na lei produzem conseqüências incontroláveis. Os exemplos são muito trágicos: Ruanda, África do Sul, EUA. Qualquer pessoa de bom senso que leia o Estatuto da Igualdade Racial saberá que ele visa a dividir a sociedade brasileira em brancos e negros. Visa a instituir o racismo, legalmente.

Por que a senhora é contra a instituição de cotas?
Não só cotas, todas as políticas com base na raça. Ou seja, o Estatuto da Igualdade Racial propõe cotas em todos os níveis de sua vida. Quando você acorda, quando dorme, quando vive, quando nasce, quando você vai ser internado em hospital. Em todos os momentos de sua vida, você terá de se definir em que categoria racial se encontra. E isso certamente produzirá a divisão do País em categorias de pessoas racialmente distintas.

Dá para dizer que não existe racismo no Brasil?
Não. Dá para dizer que não somos racistas. Nossa sociedade não é uma sociedade legalmente, estruturalmente, racista. E tem mais: a sociedade, a cultura brasileira reprime o racismo.

O que invalida o conceito de raça para construir políticas públicas?
Raça não existe. Raça é um conceito criado pelos racistas, pelos dominadores, para desigualar os que são iguais. O racismo é um mal que assola a humanidade.

Qual balanço pode ser feito das experiências de cotas no Brasil?
Temos alguns dados já da nossa própria pesquisa, acompanhando as ações afirmativas no Brasil, que revelam coisas interessantes. Por exemplo, muitas pessoas negras não se candidatam para as cotas raciais, e as cotas raciais não têm sido preenchidas. Como se as pessoas estivessem um pouco fartas desse apadrinhamento para o qual não foram nem consultadas.


Se forem generalizadas as cotas no Brasil, o que vai acontecer?
Acho que a conseqüência é danosa, é criar um país dividido racialmente. Essas políticas na verdade têm um objetivo: produzir a cisão racial. E finalmente alguns movimentos poderão dizer: 'Não dissemos que era?'
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