quinta-feira, maio 24, 2007

MOVIMENTOS CULTURAIS, CARGOS PÚBLICOS E DEMOCRACIA
Aqui em Itapeva surgiu um bonito e atuante movimento negro, que promove festas, danças, samba de roda, copoeira, cursos, palestras, campanhas beneficentes, etc. Liderado por Aparecida Oliveira da Silva, o movimento tem sido muito competente em resgatar e divulgar a cultura negra. Merecidamente, ganhou a simpatia da mídia e da cidade.
Eis que ... a prefeitura cria, este ano, uma Divisão de Igualdade Racial. Sabe quem foi nomeado para o cargo? Ela mesma, a dona Aparecida.
Aí eu fico com certas dúvidas. Dúvidas que ora compartilho com os leitores. Por exemplo, quem agora vai liderar o movimento negro, a líder dona Cida ou a chefe da Divisão Racial? É a mesma pessoa, eu sei, mas são diferentes. A líder representa os anseios do movimento. A chefe representa os da prefeitura. O movimento quer promoção, integração, etc. A prefeitura quer mais, quer os votos da comunidade. Não a prefeitura, me entendam, mas os políticos que não perdem tempo em atrair lideranças comunitárias para engordar seus votos. Aí vira um balaio de gato. Aliás, já deu briga feia com a secretária da Cultura Setembrina (PT) por causa de dona Cida, ligada ao PDT. Até com acusação de racismo, vejam só, racismo que a Secretaria e a Divisão se propõem a combater. Mas fiquem tranquilos, a briga não é por causas raciais - pelo menos antes da criação da Divisão de Igualdade não havia conflitos raciais por aqui. Nem é por divergência na formulação de políticas públicas para a comunidade negra, se é que foram formuladas. A briga é pela disputa dos votos da comunidade. Não é de doer?
Esse atrelamento ao poder é bom para o movimento negro? Eu penso que não, na medida em que a vinculação retira-lhe independência.
Mais. Todos esses movimentos autênticos, que nascem da própria comunidade, deveriam ser estimulados, estimulados a permanecerem independentes. Permanecendo independentes, prestam melhor serviço à cultura, à democracia, ao pluralismo e a si mesmos.
Nada impede, porém, que o poder público os auxilie. Aliás, sairia bem mais barato se a prefeitura, em vez de manter pessoal e estruturas custosas (quantos cabos eleitorais?), repassasse as verbas diretamente a essas autênticas associações culturais e esportivas. Elas têm vocação, gostam do que fazem, e sabem fazer melhor. Ademais, já demonstraram liderança e capacidade de organização.
Democracia não é feita de movimentos e eleitores independentes?
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