terça-feira, janeiro 07, 2020



FAXINA E O POVOAMENTO DO RIO GRANDE DO SUL
Na edição comemorativa de 20 de setembro passado, escrevemos sobre a influência que Sorocaba exerceu sobre a economia de Faxina/Itapeva. Agora vamos estudar a outra ponta da Estrada das Tropas: os pampas gaúchos - campos ou pradarias ricas em gramíneas, onde havia grande quantidade de gado alongado, “sem dono”, provavelmente fugido de missões jesuítas abandonadas no início do século 17.
Paulistas de São Vicente, descendo pelo litoral, foram explorar essa riqueza. A partir de 1772, Laguna tornou-se o primeiro centro de charqueada do sul do País, exportando em larga escala carne salgada e couro. O gado era retirado dos pampas com auxílio de índios.
Com a corrida aos garimpos em Minas Gerais e adjacências, no séc.18, criou-se forte demanda por alimentos e animais de carga, que levou tropeiros de Sorocaba, Itu, Itapeva, Castro etc. a rumarem aos pampas, onde muitos deles abriram fazendas. De lá, foram trazidos muares e bovinos em grande quantidade. Nas idas e vindas, compravam e vendiam, além de gado, tecidos, sal, medicamentos, fumo, ferramentas, arreamentos (selaria), aguardente, açúcar mascavo, rapadura, farinha, toucinho, entre outras mercadorias, estimulando, ao longo das rotas, a abertura de fazendas de engorda (invernadas), pontos de parada (descanso), estabelecimentos comerciais, formação de povoados e vilas; nestas, a nomeação de portugueses ou descendentes para cargos civis e militares visavam garantir a posse do território (havia ameaça de invasão espanhola).
Todavia, os primeiros tropeiros encontraram sério empecilho para tocar o gado dos pampas até Sorocaba: as rotas então conhecidas, litorâneas, não ofereciam alimentação suficiente para viagens longas: “O litoral arenoso recobrindo-se de pastagens magras, em geral era inadequado ao longo trânsito das tropas.” (1)
Como nem o litoral nem as matas fechadas ofereciam alimentos, foi preciso, então, abrir caminho por onde houvesse gramíneas, encontradas nos chamados campos, campinas, faxinais – locais com predominância de árvores baixas e ralas, com insolação suficiente para a brotação intercalada de gramíneas e outros alimentos. “Fazia-se mister galgar a serra e alcançar o planalto interior, cujo relevo suave intercalado de áreas florestais, mas suficientemente curtas, facilitava o transporte da gadaria e oferecia a alimentação necessária. Em 1728-30, Souza Faria (3) realiza a primeira etapa deste empreendimento difícil, subindo  [do litoral de Santa Catarina] o vale do Araranguá e atingindo, no aIto, os campos catarinenses de São Joaquim, deles passando aos campos de Lajes e Curitibanos. Depois, rompendo um trecho de matas, que ficaria conhecido pelo sugestivo nome de «Caminho da Mata», transpõe o rio Negro (...), achando, nos campos gerais do Paraná, o caminho natural que levaria às campinas de Sorocaba.” (1)
Em 1730-32, Cristóvão Pereira, militar português que se tornara sertanista e tropeiro, chegou a Sorocaba com a primeira tropa vinda do sul. “Com a intensificação do tráfego das tropas, os comerciantes de Sorocaba aprimoram sua trajetória, estabelecendo comunicações mais diretas com áreas depositárias do gado. Em 1738, Cristóvão Pereira abre a estrada que, de Lajes, penetra o Rio Grande do Sul pela região serrana (...), alcançando as pastarias infindáveis das vacarias gaúchas.” (1)
A Estrada das Tropas era tão importante para a economia que em 1808 mereceu de D. João VI ordem específica para guerrear contra índios ferozes que atacavam tropeiros, viajantes e fazendas “desde Faxina até Lajes”. Algumas etnias eram aliadas dos brancos.
Historicamente, comércio tem sido um dos principais propulsores do desenvolvimento. O comércio tropeiro não foi diferente, por onde passava animava e vice-versa, como relatado: a nova “estrada de Araranguá (...) marca, porém, o declínio da próspera Laguna, que perde sua função de intermediária no comércio dos gados.” (1). Depois, com a abertura da rota por Lajes, “dá-se novo deslocamento do eixo comercial, em detrimento, desta vez, da estrada de Araranguá, que progressivamente entra em declínio. Os tropeiros passam a animar com seu movimento a região serrana.” (1)
Certamente, a disputa entre sesmeiros de Vila Velha e de Faxina sobre a sede da nova vila, vencida por Faxina, tem tudo a ver com as vantagens proporcionadas pelo próspero comércio tropeiro.
A região de Faxina foi enormemente favorecida por apresentar uma enorme vantagem: grande extensão de terras de cerrado, também chamadas de “terras de campo” ou “faxinais” (predominância de árvores curtas e ralas, intercaladas de gramíneas).
 “Faxina” significa lenha miúda, gravetos; “faxinal” significa lugar de mato curto. Há vários “faxinais” no Caminho das Tropas, bem como “campos”, “campinas”, como os municípios de Faxinal do Soturno (RS); Faxinal (PR). Em Itapeva temos o bairro rural “Faxinal”. Portanto, a versão que relaciona a palavra “faxina” com a “limpeza” dos índios do entorno da Vila de Faxina não se sustenta.
Segundo a Genealogia Tropeira, “boa parte do elemento humano que povoou a região se deu a partir do tropeirismo. Eram paranaenses ou paulistas que vieram do Norte, saindo de Sorocaba, Itu ou Itapeva, em São Paulo, ou Curitiba, Castro, Ponta Grossa e Lapa no Paraná e chegando a Lages em Santa Catarina ou aos campos de Cima da Serra( Santo Antônio da Patrulha), Vacaria e Lagoa Vermelha no Rio Grande do Sul, num primeiro momento e, às Missões ou Cruz Alta e Passo Fundo, no Planalto Médio, num segundo momento”
Eis alguns faxinenses que foram aos pampas: Cap. José Gonçalves de Oliveira Melo, nascido em 1819 em Faxina (SP). José da Silveira Loureiro, natural da Faxina, filho de Bernardo da Silveira e Ana Loureiro. Cel. João de Deus de Oliveira Melo, nascido em 1852 no Rincão dos Melo (onde moravam vários faxinenses), em Cruz Alta (RS), onde morreu; foi casado com Rosalina Silveira Loureiro, nascida em 1858 em Cruz Alta, filha de José Joaquim (da Silveira) Loureiro, nascido na Faxina (SP) e morto em 1898 em Cruz Alta. Descendem desses faxinenses os gaúchos: Gen. Raul Silveira de Melo, que foi para o Rio; D. Alonso de Oliveira Melo, bispo de Diamantina, entre outras figuras de destaque.

(1) “Povoamento do Rio Grande do Sul”, da geógrafa Maria Luiza Lessa Curtis, disponível da internet, escrita para o Atlas do Rio Grande do Sul.
Artigo extraído do capítulo História de Itapeva, do livro DESVENDANDO A LÓGICA DO ENRIQUECIMENTO, de Sebastião Loureiro


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domingo, setembro 01, 2019


DESIGUALDADE DE RENDA

7 - A TARDIA INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
A industrialização do Brasil ocorreu a partir de 1930, cerca de 2 séculos após a da Inglaterra (item 6.1) e a dos EUA (item 10.5.2). Com o cultivo do café, empresários brasileiros puderam acumular poupança (renda não consumida) para financiar o processo de industrialização. É por esta razão que a indústria brasileira teve início em regiões cafeeiras: Rio de Janeiro e São Paulo.
Nossa industrialização provocou efeitos semelhantes aos verificados em outros países. Na agricultura, por exemplo, o uso de tratores, adubos e defensivos químicos e outras tecnologias modernas elevaram substancialmente a produtividade e a oferta de alimentos. Em consequência, o custo de produção entrou em processo de queda – em benefício dos consumidores.
Em tempo 1: foi a concentração de renda no bolso dos empresários do café que viabilizou a industrialização do Brasil, que melhorou – e muito – a qualidade de vida de todos os brasileiros. Desconfie, portanto, de críticas generalizadas sobre desigualdade de renda!
Em tempo 2: antes da Independência (1822), o comércio era monopólio dos portugueses, ou seja, o capital comercial não era acumulado aqui.
7.17 – DESIGUALDADE CONTRIBUI PARA REDUÇÃO DA POBREZA
Objetivo: entender que desigualdade de renda é necessária para erradicar a... pobreza!















Não obstante os esquerdistas considerarem a concentração de renda (desigualdade) como efeito perverso da economia de mercado (capitalismo), que deve ser combatida, ela, a desigualdade, tem sido importante para a redução da pobreza, através do empreendedorismo (ver item 15.16).
Vamos lá: desigualdade significa que alguns ganham menos, outros ganham acima do necessário para o consumo. É esse ganho “a mais” (sobra do consumo) que é investida em novos empreendimentos, pelo próprio ou por terceiros, no caso de o poupador preferir aplicar a poupança em bancos, que a emprestarão a empreendedores (item 15.5 - Intermediação Financeira).
Já vimos no início deste capítulo como a concentração da renda do café deu início à industrialização do Brasil. Outro exemplo foi citado no capítulo 4: as primeiras cidades, na Mesopotâmia, foram construídas pelo “dizimo” arrecadado pelos reis-sacerdotes.
Na verdade, o que deve ser erradicada é a pobreza. Ocorre que a maneira sustentada, eficaz, de erradicar a pobreza é através do empreendedorismo, que exige poupança, ou seja, desigualdade. Por não entender este mecanismo, governos de esquerda têm levado economias ao desastre (Dilma e outros, ver gráfico no item 10.3.1).
Em tempo 1: no Brasil, infelizmente, a maior parte da poupança é repassada para o governo rolar a dívida (item 15.7), prejudicando seriamente o empreendedorismo e o crescimento da economia.
Em tempo 2: a poupança também pode ser importada com a vinda de empresas multinacionais, como estão fazendo a China e outros asiáticos. Mas, nossa esquerda nacionalista também... é contra!
15.16 – A DESIGUALDADE AUMENTOU COM A REDUÇÃO DA POBREZA
Há muita manipulação do conceito de desigualdade de renda (item 7.17). Exemplo: “No governo militar, embora o PIB tenha crescido bastante, aumentou a desigualdade de renda”. Correto, mas isso foi ruim? Vamos então entender como é feito o cálculo da desigualdade: a soma da renda da metade mais rica é dividida pela soma da renda da metade mais pobre:


 



(Há outros métodos de calcular, como dividir a renda dos 20 % mais ricos pela renda dos 50 % mais pobres, que não alteram nossa demonstração).
Para efeito de cálculo, a população é dividida em 10 grupos com igual número de pessoas, com renda média decrescente.
Em 1930 (início da industrialização brasileira), apenas 10 % (primeiro grupo) da população eram ricos e remediados, com renda média, digamos, de 10 (ver item 7.11). Todos os demais grupos (formados por camponeses pobres) tinham renda média suposta em 1. Grosso modo, era a configuração da população brasileira em 1930. Como demonstrado no quadro seguinte, a renda da metade rica era 2,8  vezes a renda da metade pobre:
 




40 anos depois, em 1970, com o processo de industrialização em curso, a classe média/alta ganhou mais 20 pontos percentuais (de 10 % para 30 %).  A pobreza caiu de 90 % para 70%. E a desigualdade de renda aumentou: a renda da metade mais rica passou a ser 5,8 vezes a renda da metade mais pobre (quadro abaixo). É isso: a desigualdade aumentou exatamente porque diminuiu a pobreza.






Matematicamente, a desigualdade aumenta até que o processo de inclusão econômica favoreça a metade mais pobre. Daí em diante a desigualdade passa a diminuir.
É o que vem ocorrendo no Brasil desde 1998 ou um pouco depois, conforme a metodologia usada. Em 2005 a pobreza atingia 30 % população. Suponhamos então que a soma da renda dos 5 grupos mais ricos (10+9+8+7+6) era 40 (quadro seguinte).  E a soma da renda dos 5 grupos mais pobres (5+4+1+1+1) era 12. A taxa de desigualdade caiu para 3,33 – porque o processo de redução da pobreza chegou à metade mais pobre. 


Vamos ler o site da BBC:

“Desigualdade - Os índices de desigualdade no Brasil cresceram de forma contínua a partir dos anos 1960, com uma piora expressiva durante o período da ditadura militar (...) A tendência de queda sustentada começa em meados dos anos 1990, (...) tanto durante o governo Fernando Henrique Cardoso quanto nos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva.”   Fonte:IBGE: redução da desigualdade no Brasil estaciona nos níveis de 2011”, no site BBC BRASIL

  FONTE: DO LIVRO "DESVENDANDO A LÓGICA DO ENRIQUECIMENTO", da autoria deste blogueiro

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